25 Abril: Uma data a celebrar sempre, para que a memória não se apague

O alerta para a necessidade de fazer cumprir Abril e cada um ser guardião e lutador pela liberdade esteve presente em todas as intervenções na Sessão Solene comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, que decorreu esta manhã na Covilhã. Uma data a celebrar para que a memória não se apague, reforçou o presidente da Assembleia Municipal.

Fernando Pinheiro eleito pela coligação “A Covilhã tem Força”, começou por relembrar que a sua terra, o Tortosendo, nunca se vergou ao Estado Novo, mostrando orgulho “nas façanhas” de muitos dos seus habitantes.


Referiu a revolução como a construção de uma “árvore de liberdade”, que hoje vivenciamos. “Com ela foram abertas as portas à cidadania, ao diálogo e à tolerância”, e com ela “a liberdade de expressão saiu à rua e a censura do lápis azul e tesoura caiu por terra”, descreveu.

Reclamou justiça “para os antigos combatentes”, enalteceu a entrada na União Europeia e criticou a moeda única, que obriga “a uma subserviência que aumentou o custo de vida, propalando um crescimento económico sustentado que tarda em chegar”, disse.

Para o eleito enquanto houver desigualdades falta cumprir Abril. “Vem-me à memória a canção «A paz, o pão, a habitação, a saúde a educação…». A democracia, como a maior conquista do Portugal em liberdade, é ainda um projeto em construção, mas a democracia será sempre, e para sempre, o poder de todos sem exceção. As desigualdades continuam acentuadas em Portugal, desigualdades que têm rosto no acesso às áreas essências na vida das pessoas”, disse, concluindo que “é preciso mudar paradigmas e mentalidades, para corrigir as fragilidades existentes”, vincando que “Abril foi passado, é presente, mas tem que ser futuro”.

Fernando Pinheiro deixou, a terminar, um desafio para alterar o sistema eleitoral, para combater também a abstenção, com a máxima de que nenhum voto se perca e todos sejam convertidos em mandatos.

Marco Gabriel, que usou da palavra em nome do Grupo Municipal do PCP, colocou na Constituição o assento tónico da sua intervenção.

Um discurso em que começou por homenagear os 510 presos políticos do concelho da Covilhã. Um exemplo de “coragem, determinação, resistência e luta”, como o foram também os elementos do PCP que durante 48 anos lutaram contra a ditadura, recordou.

Recordando os tempos vividos reconhece que “é difícil, sobretudo para os mais jovens, imaginar a vida antes do 25 de Abril”.

Sublinhando que a Constituição é o texto fundador da democracia e nela se consagram as liberdades, os direitos e proteções, a autonomia regional e o poder local democrático, assegurando o direto ao povo de decidir quem o governa, e que tornou Portugal num estado de direito democrático, vinca que esta “dá o cunho identitário a cada povo” e risa que “os problemas e injustiças da atualidade não se resolvem mudando a Constituição, mas com a alteração das politicas que a deturpam”, disse.

Joana Rocha, em nome da bancada do CDS-PP desafiou a refletir sobre o que se quer para o futuro nesta “já não tão jovem democracia”. Com o 25 de abril e com a Constituição devolveu-se a soberania ao povo, mas, “temos sabido honrar esse desígnio?”, questionou.

“Nunca tanto como nos últimos tempos temos ouvido a expressão voto de protesto. Devolveu-se a soberania ao povo, deu-se-lhe liberdade para se exprimir e 5 décadas depois, esse mesmo povo, que somos todos nós, sente a necessidade de se manifestar contra o sistema partidário, ou contra os dirigentes políticos, com votos de protesto depositados em quem, quiçá, noutras circunstâncias menos desalentadas não seria merecedor do seu voto. Exercem o nobre direito de votar, mas considerar-se-ão realmente livres e representados por aqueles a quem, com seu voto, atribuem o privilégio de os representar”, questionou.

Joana Rocha disse ainda que o desinteresse pela política e pela participação cívica, que não é só dos jovens, “é um flagrante sinal de que a democracia que tanto se almejou não estará a ser sempre honrada” e neste ponto criticou a Câmara Municipal da Covilhã por continuar sem efetuar a transmissão online das reuniões publicas. “Nunca percamos a liberdade e nunca, mas nunca nos demitamos de a usar, apesar de tudo, apesar de todos”, concluiu.

Hugo Lopes discursou em nome do PSD com uma intervenção em que falou do passado, do que se conquistou com o 25 de abril, do presente e de desafios e ameaças que pairam nos dias de hoje.

“Por que razão temos 50 ameaças ao dia de hoje? Porque não estamos a conseguir responder aos desafios e às exigências dos cidadãos, 50 anos depois”, disse, referindo-se aos partidos políticos, para salientar que “os standards, as exigências, que se aplicaram ao país há meio século, temos que as aplicar hoje”. “Não poemos falhar nesta missão, é uma missão de todos os partidos democráticos”, disse, sublinhando que “ainda assim, não se pode confundir defesa da ética, da integridade e do rigor, com judicialização da política”.

Foi o mote para chamar a Constituição à sua intervenção relembrando os princípios aí inscritos que consagram essa separação de poderes.

Hélio Fazendeiro, em nome da bancada Socialista recordou as “histórias assustadoras” do que se vivia antes do 25 de abril. A guerra, o abandono escolar precoce, “que não podemos esquecer para que nunca mais de repitam”, sublinhou.

Caracterizou a evolução do país nos últimos 50 anos, com elogios a conquistas como o SNS e o estado social, “um país mais moderno, tolerante e inclusivo”. “Um povo que era maioritariamente iletrado e que agora tem ensino generalizado”, deu conta.

Um país que evolui na igualdade e na solidariedade, com liberdade e democracia, mas, alertou, que estas não são um dado adquirido.

“A verdade é que vivemos tempos sombrios e muito estranhos, de guerra, intolerância, violência, individualismo e de ódio injustificado. Também em Portugal é preocupante o crescimento de movimentos políticos radicais intolerantes, que se afirmam cavalgando o ódio, o medo e a inveja entre as pessoas. Quero dizer-lhes que enquanto socialista, republicano e amante da democracia serei um lutador incansável para os combater, denunciar e travar. O fascismo, a xenofobia, o racismo e a intolerância não passarão”, disse, sublinhando que a defesa da democracia se faz com “informação, cultura, bons exemplos de governação e com propostas e políticas que resolvam os problemas e melhorem a qualidade de vida do povo. Essa é a arma dos democratas. É a principal obrigação dos agentes políticos”, apontou.

Justiça, emergência ambiental, saúde, emprego, habitação foram áreas elencadas pelo socialista como essenciais à vida as pessoas.

Hélio fazendeiro concluiu afirmando que “o 25 de Abril será sempre a data mais importante do Portugal contemporâneo e uma das mais importantes da nossa história”, vincando que “no dia em que for destruído, outro surgirá”.

A encerrar as intervenções na Sessão Solene João casteleiro, presidente da Assembleia Municipal, apontou o 25 de abril como a “data que nos deu a certeza da possibilidade de irmos mais além” no sonho de “sermos livres” e exortou os mais jovens a seguir o exemplo da sua geração, que lutou pela liberdade e democracia, a “continuarem a concretizar esse sonho”.

“Depois de anos e anos de um fascismo aterrador, agora são as gerações mais novas que têm o dever de continuar a concretizar esse sonho”, disse, apelando a que “continuem a lutar por mais igualdade com reconhecimento pela singularidade, mais desenvolvimento, melhores condições de vida, mais saúde, melhor habitação, melhor educação, mais justiça social, maior coesão territorial, mais sentido de comunidade e de bem comum, porque a eles, aos jovens, cabem escolhas e as decisões para os próximos anos”, disse.

No seu discurso o presidente da Assembleia Municipal sublinhou a festa que deve representar esta data. Uma data a celebrar para que “a memória nunca se apague”, reforçou, vincando que foi com ela que se “derrubaram fronteiras, e se abriram as portas para a Europa”. Acabou com a “velha e atrasada portugalidade, com a ditadura, com o medo, com uma guerra ultramarina medonha, em que muitos dos jovens não voltavam ou voltavam em “caixas de Pinho” como cantava Zeca Afonso”.