“Lutaram e Sofreram por Abril”: Uma memorial aos 510 covilhanenses presos pela PIDE

O livro “Lutaram e Sofreram por Abril”, de António Assunção e Casimiro Santos, relata as histórias dos 510 covilhanenses presos pela PIDE, dá-lhes um rosto e retira-os do esquecimento, é, por isso, mais que um livro, uma homenagem, foi sublinhado durante sua a apresentação.

António Assunção sublinha que se trata de um livro de memória, “da memória coletiva”, descrevendo-o como racional, por um lado, porque é baseado em pesquisa de factos, mas também muito emocional, por “sabermos o sofrimento que significa star naquela lista”, disse.


“Este livro é, acima de tudo, uma singela, mas muito sentida e emocionada homenagem, às muitas centenas de homens e mulheres do concelho da Covilhã que lutaram, e muito sofreram, para que hoje possamos estar aqui, em liberdade e em democracia, a comemorara Abril”, realçou.

O historiador não esconde que se sentiu “chocado e emocionado” quando, depois de investigar os registos, encontraram 510 presos do concelho da Covilhã, sendo “na maior parte pessoas do trabalho, operários”.

Casimiro Santos relata que o livro representa “a génese da Covilhã de insubmissão perante a repressão” que, segundo descreve, “existe já desde o Foral”. Realça que no seu entender, os dois autores são “trabalhadores da memória”. “Revirámos o tempo e pusemos à vista essa memória”, conclui.

Durante a apresentação, Vítor Pereira, presidente da Câmara Municipal da Covilhã e autor do prefácio do livro, sublinhou a dupla função da obra.

“Um livro de história e ao mesmo tempo uma homenagem aos 510 covilhanenses que resistiram ao regime fascista e foram presos e torturados.

“Não só construíram um importantíssimo livro de história como ergueram um memorial aos muitos que lutaram e sofreram para conquistarem a liberdade para o nosso país. Um memorial que surge em letra de imprensa, que pode abrir-se e ser consultado, que enumera um a um”, realçou.

Nomes que nos marcam por sabermos o que significava estar naquela lista, disse o autarca, sublinhando que “encerram histórias de sofrimento e de coragem que merecem ser conhecidas por todos”, apontando que esse é outro mérito deste livro.

“Um livro histórico, escrito a quatro mãos”, destacou o autarca, frisando que se trata de um valioso contributo, até mesmo para ajudar no ensino.

“Contém testemunhos de valor histórico que nos convocam a tudo fazer para que esses tempos não voltem”, sublinhou.

Para Fernando Paulouro “é uma honra falar sobre este livro”, por se tratar de uma obra “em louvor da memória”, disse.

Salientou que “tirar da opacidade estes 510 nomes, é a melhor forma de celebrar a liberdade”.

“São nomes dos que colocaram a vida no fio da navalha da opressão para assumirem a resistência ao fascismo neste nó de terra que é a Beira”, disse.

Realçou o “rigor e o trabalho” dos autores ao investigar a resistência no concelho da Covilhã, afirmando que “quebraram silêncios e deram nova vida a pessoas e acontecimentos, retirando-os da morte silenciosa e definitiva”.

“Lutaram e Sofreram Por Abril – A resistência no concelho da Covilhã 1926 – 1974” foi editado pela Câmara Municipal da Covilhã e apresentado no Salão Nobre dos Paços do Concelho na quarta-feira, dia 24 de abril.