Pacheco Pereira: “A censura ainda hoje está viva, deixou herança”

José Pacheco Pereira defendeu na Covilhã que a censura perpetrada pelo Estado Novo deixou herança e mantêm-se viva até aos dias de hoje.

O auditório do Teatro das Beiras encheu para ouvir o investigador da história contemporânea portuguesa, jornalista, cronista e político, ontem à noite, na tertúlia “A Censura no Teatro durante o Estado Novo – Materiais da Censura no Arquivo Ephemera”, promovida pelo Teatro das Beiras no âmbito da iniciativa “e agora Abril”.


No final, em declarações aos jornalistas, defendeu que de todos os instrumentos de repressão usados, “a censura é o que ainda hoje está vivo”.

“A censura mexia com a cabeça das pessoas, a polícia mexia com o corpo. Mexer com a cabeça das pessoas, durante tão longo período de tempo, tem resultados. Cria vários comportamentos que as pessoas herdam da censura, mas não acham que vêm da censura”, disse.

Dá como exemplo “a demonização da política, a ideia de que a política inferioriza”, defendendo que isto vêm dos 48 anos da censura.

“A demonização da política e a obsessão por um mundo onde toda a gente se entenda vêm da censura”, disse, apontando que “um mundo onde todos se entendam não é um mundo democrático”, sublinhou.

Aponta que a censura “deixou ficar um lastro até aos dias de hoje”, concretizando com a falta de debate ideológico. “Uma Ministra toma uma posição ideológica. Qual é o problema? È suposto que se tenha ideologia, podemos contestar essa posição, mas através de outra posição ideológica”, disse, lamentando que não seja isto que acontece, mas sim “encarar essa posição como um insulto e isso é que é inaceitável”

Sublinhou que a censura foi utilizada para “proteger a relação de poder” e no plano cultural “foi muito eficaz”, embora no plano político “se conseguisse enganar”.

Alerta que nos dias de hoje há outras formas de censura, “não é uma censura de estado”, há uma censura que advém do “medo do outro” e do “politicamente correto”.

Afirma que “a criação literária e o discurso e narrativa política não pode aceitar esse tipo de limitações”, concluiu.

Este colóquio encerrou a exposição “Censura no Teatro” que esteve patente no Teatro das Beiras, com documentação da responsabilidade de José Pacheco Pereira e Rita Maltez, sendo a cenografia e instalação de José Manuel Castanheira e a pesquisa e textos de Guilherme Filipe.