Filmes UBIanos premiados no Sophia Estudante 2021

Rafael Almeida, María Angélica Contreras e Catarina Henriques relataram a sua experiência no concurso e explicaram a realização dos seus projetos cinematográficos.

As curtas UBIanas ‘’Igor’’, ‘’The Namelessness Dance’’ e ‘’Camarada de Armas’’ foram distinguidas na 7ª Edição do Sophia Estudante 2021. Os filmes alcançaram o primeiro lugar na categoria de Ficção e o segundo nas categorias Experimental e Documentário, respetivamente.


‘’Igor’’ de Rafael Almeida, Tom Vitor de Freitas e Marcos Kontze é assinado pelo coletivo Igor Montoya. Segundo o seu press kit, o filme é um híbrido entre o cinema e o videojogo que pretende descobrir uma abordagem à interatividade do cinema e encontrar um ponto comum entre a singularidade da linguagem desta e dos videojogos.

Rafael Almeida, realizador da curta, afirmou que ser premiado pelo Sophia Estudante é uma distinção importante, pois trata-se da Academia Portuguesa de Cinema, sobretudo, quando a curta foi fruto de uma produção completamente independentemente que não teve qualquer tipo de apoio. Rafael ressaltou que ‘’Igor’’ não foi um projeto final de Mestrado, mas sim um filme para a cadeira Cinema e Outras Artes do curso de Cinema da UBI. O realizador acabou por relacionar a sétima arte com os videojogos, daí a criação da versão interativa, que está agora a acabar de ser desenvolvida. De acordo com o realizador, “a que ganhou o prémio é a versão curta-metragem, a versão que não dá para interagir, mas eu penso que a versão interativa também vai ser algo muito interessante para os espetadores’’. Além disso, no que concerne à afetação da pandemia no processo de filmagem, Rafael relata que a última cena de ‘’Igor’’ foi filmada no dia antes do lockdown, a 16 de março de 2020. “Se não tivéssemos filmado aí também acho que já não filmávamos, porque a universidade fechou no dia a seguir”.

O projeto, que integra seis alunos do Mestrado em Cinema da UBI, defende a importância do realizador, do diretor de som, do guionista, do diretor de fotografia, de arte e da produção. Com efeito, Rafael Almeida explica “quando tu vês um filme, normalmente, é o filme «x» do realizador «x». Aqui a nossa ideia é um pouco desconstruir, no sentido em que todo o filme acaba por ser um conjunto. Neste caso, eu realizei, mas sem o resto da equipa o filme não existia. É um pouco essa a nossa ideia ao criar o Igor Montoya”.

A história começa com Igor a acordar numa sala escura. Não sabemos como é que ele foi parar ali. Ele acorda e tem três portais à sua frente. Este é um início bem clássico para um pequeno jogo. Agora o espetador tem de escolher para que porta é que ele vai.” garante o realizador.

Cada uma das portas representa um tipo de videojogo diferente: uma porta representa o videojogo de first person, outra o 2D, aquele videojogo mais clássico que se vê nos últimos Arcades, em que se anda para o lado e em que se derrotam as pessoas e, depois, temos o videojogo 3D. Se calhar, a inspiração para essa é o Uncharted” conta, Rafael acerca da versão interativa, prestes a estrear.

María Angélica Contreras, realizadora da curta “The Namelessness Dance”, também partilhou a sua experiência no concurso. “Eu acho que ter ganho esse reconhecimento é muito importante. Os prémios também funcionam como uma aprovação. Eu já não sou estudante, mas no começo da tua carreira é muito importante ganhar esse prémio, porque te ajuda a ganhar fundos. Tens mais apoios e mais currículo”, conta a realizadora, acerca do significado deste reconhecimento pelo Sophia Estudante 2021.

María não gravou durante a pandemia, mas sim em 2019, seguindo-se um ano de pós-produção. Relativamente à sétima edição da cerimónia que decorreu, pela primeira vez, em formato online, a realizadora explicou que a forma como recebeu a notícia de que era vencedora foi atípica. Depois de celebrar abriu “uma cerveja”, contou entre risos. No entanto, garante que “foi muito fixe. Fiquei muito feliz”.

No que concerne ao simbolismo do título da curta, María afirmou que The Namelessness Dance” é um jogo de palavras. Não é só o anonimato que é o acontecimento central: é o esquecimento histórico. “O conceito central é o esquecimento histórico das mulheres como coletivo”. Daí “The Nameleness Dance”, porque a dança é o anonimato. “As mulheres começaram a ser esquecidas, o que nos tem colocado historicamente de lado”. É através da dança que esta metáfora é feita. “Eu quero também aclarar que isto foi feito num contexto com muitas limitações. Então eu digo que é um coletivo de mulheres em geral, mas em nenhum momento tenho uma pretensão de representatividade.” explica.

O local de gravação da curta foi o New Hand Lab na Covilhã. Para María, era importante que “fosse uma cena industrial, decadente”, com cores escuras, “mofo e pouca luz”. No entanto, “há um momento em que há cores como laranjas”, mas após o clímax, a paleta de cores volta aos “tons frios”.

Catarina Henriques, realizadora do filme ‘’Camarada de Armas’’ também relatou a sua experiência. Para a realizadora, este prémio foi recebido com alegria, visto que foi a sua primeira premiação. Ainda que a sua receção seja um pouco estranha, dada a pandemia, explica que “é diferente. Temos de nos habituar aos novos tempos. Como não há cerimónia presencial, cá estamos à beira do computador”.

Além disso, “a curta não foi filmada em 2020. Começou em 2018 e acabou no verão de 2019. Eu acabei antes da pandemia”, esclareceu. “Queria acabar o Mestrado com um projeto que fosse super desafiante, que me fizesse crescer enquanto realizadora e consegui. Descobri também que tudo o que nos mostram sobre a vida militar não é bem assim”, clarificou a realizadora relativamente aos objetivos da curta.

Catarina Henriques relatou também a experiência de testemunhar o crescimento e a evolução dos próprios militares. “Eles crescem imenso. No início não se conhecem bem e começam a viver todos juntos no mesmo sítio, são obrigados a conviverem uns com os outros, a confiarem uns nos outros. São novos, mas, apesar disso, aquilo fá-los crescer um pouco mais. Ficam «maiorzitos» emocionalmente e fisicamente” explica a realizadora de “Camara de Armas”.

Os prémios Sophia Estudante, atribuídos pela Academia de Cinema Portuguesa, são uma forma de incentivar e premiar futuros cineastas, estimulando as instituições de ensino e os seus corpos de docentes a partilhar projetos de trabalho desenvolvidos num contexto escolar. Na sétima edição dos prémios Sophia Estudante, decorrida em 2021, participaram 83 curtas-metragens das quais 22 foram nomeadas e 16 premiadas nas quatro categorias disponíveis: Ficção, Documentário, Experimental e Animação.

-Sofia Pereira
-Tomás Quaresma