AM Covilhã: Incêndio da Serra da Estrela politicamente continua ativo

Se na Serra da Estrela o grande incêndio está apagado, politicamente continua ativo, e disso foi prova o que aconteceu ontem na Assembleia Municipal da Covilhã.

Todas as bancadas aplaudiram de pé a descrição do combate feita pelo comandante dos Bombeiros Voluntários da Covilhã, Luís Marques, mas, em termos políticos a discussão foi acesa.


Lino Torgal (PSD), no ponto da ordem de trabalhos para criação de uma comissão de trabalho para acompanhamento das ações e apoios a implementar, mostrou um vídeo, com montagem de vários momentos do incêndio, para mostrar o que considerou uma atuação crítica da autarquia, afirmando que “houve desvalorização, minimização e negligência”, acusa o presidente da Câmara de estar “ausente nos primeiros dias”, vincando que “o plano de emergência municipal não foi ativado no devido tempo”. “Houve um insulto às populações afetadas com voltas e festas como se nada estivesse a acontecer”, afirmou, deixando no ar a questão “como é possível que isto tenha acontecido?”.

“Uma comédia carnavalesca”. Foi desta forma que Vítor Pereira reagiu ao vídeo apresentado, afirmando que ficou “surpreendido com a leviandade” feita por Lino Torgal.

“Ele pensa que está a organizar o Carnaval da Neve no Pelourinho. Quero-lhe dizer que não se brinca com coisas sérias. O senhor brincou com as pessoas e instituições e já levou a resposta. Foi dada pelo senhor comandante. Isto é uma coisa descontextualizada e desastrada”, disse, referindo-se ao vídeo mostrado.

Quanto à sua presença na Covilhã durante o incêndio, Vítor Pereira afirma que nesta, e em outras ocasiões, ao longo dos 9 anos “está sempre presente, de dia e de noite, chegando a estar 30 horas sem ir à cama”, frisou.

Deu ainda nota que vai haver uma comissão independente para fazer a análise e reporte do incêndio “e vai haver muitas surpresas”, disse.

Lino Torgal garantiu que “não atacou os bombeiros”, falando em “responsabilidade política”, vincando que o presidente da Câmara “deve assumir a sua”, disse.

“Estive onde tinha que estar, como devia estar, fiz o que tinha que fazer quando devia fazer. Assumi e assumo as minhas responsabilidades”, respondeu o autarca.

Vanda Ferreira (PSD) “tira conclusões inesperadas” pelo que viu, manifestando “critica e repúdio severo”. Em nome do partido, “sem prejuízo da avaliação política”, mostra disponibilidade para colaborar ativamente para voltar a dar “a vida, magia e brilho à Serra da Estrela”.

Hugo Ferrinho Lopes, do mesmo grupo municipal, deixou um “apontar de dedo crítico” às declarações do vice-presidente, Serra dos Reis, durante o incêndio, frisando que “este devia retratar-se e reconhecer que errou”.

Vítor Reis Silva (CDU) fala em “descoordenação”, avançando que tal que lhe foi reportado por alguém que esteve no teatro de operações, mas frisa que o importante é olhar em frente e lamenta que o projeto de resolução, com um programa de emergência para a Serra da Estrela, apresentado pelo PCP na Assembleia da República tenha sido chumbado. Defende que “é preciso uma direção de gestão própria para o Parque Natural da Serra da Estrela. Falta uma unidade orgânica de direção intermédia da administração central, com diretor, alguém que conheça a realidade, unidade dotada de meios técnicos, humanos e financeiros necessários à adequada gestão e salvaguarda do território”, disse.

Pedro Bernardo (PS), deixou claro que questões técnicas de combate devem ser abordadas pelos técnicos, vincando que à classe política compete “a resposta às populações para as necessidades imediatas e a reconstrução do património natural adaptado às realidades climáticas que hoje vivemos” e manter “a esperança e a certeza de que a Serra da Estrela e o nosso território não morreu”. Do mesmo grupo municipal usaram também da palavra Afonso Gomes e Nuno Pedro, condenando as imagens mostradas e defendendo a estratégia do comandante Luís Marques.

Afonso Gomes, como o mais jovem eleito na Assembleia Municipal, afirma que são situações destas que “afastam os jovens da politica”.