Covilhã inicia processo de instalação formal de 10 Aldeias Seguras. Trigais é a primeira

Trigais, anexa da Freguesia da Erada, é, oficialmente, “Aldeia Segura”, no âmbito da Proteção Civil, o que significa que, em caso de incêndio, as suas gentes ficam protegidas dentro da aldeia.

Esta é a filosofia inerente a este programa. Sem pânico, sem necessidade de fugas que podem ser fatais, ou de evacuações, tantas vezes demoradas e dolorosas.


No sábado o cenário era de chuva e nevoeiro. Mas, olhando em volta, pode facilmente imaginar-se um dia de verão, quente e ventoso. O pinhal, a orografia, uma única estrada de acesso, uma população envelhecida e facilmente de percebe o porquê desta aldeia ser uma prioridade para as autoridades.

“É uma aldeia numa zona com pinhal denso, agora já temos aqui alguns cortes que ajuda a haver alguma limitação no caso de incêndio. Em 2005, como bombeiro, fui um dos que fiquei aqui sem conseguir sair”, descreveu o comandante Luís Marques.

Detalha que “o programa Aldeia Segura faz sentido aqui, porque em caso de incêndio, vai acontecer um momento em que não conseguimos sair e é preciso criar condições dentro da aldeia para que se fique em segurança, porque não é possível fazer a evacuação total. Também só temos um acesso e só uma forma de sair, sublinhou. Falando para os moradores, vinca que “como vocês sabem, até melhor do que eu, os incêndios normalmente vêm do lado de baixo e cortam a estrada. Temos de criar condições para que vocês possam estar em segurança”.

Embora cada aldeia seja diferente da outra, de uma forma genérica, para além das limpezas, são ainda criadas outras condições de segurança, nomeadamente, a criação de local de refúgio, no caso é o Largo da Aldeia por conseguir albergar toda a população, o local de abrigo, que é a sede da coletividade, onde há alimentação, água e kits de primeiros socorros para que se possa ali permanecer.

Na aldeia foi colocada sinalética que indica as direções de cada um deles, bem como o mapa e plano de evacuação onde estão todas as informações importantes sobre o programa.

Foi ainda nomeado o “oficial de segurança”, pessoa que na aldeia é o braço direito da proteção civil, a quem são dados os primeiros alertas que depois passa aos seus conterrâneos.

Foram criados mecanismo de aviso que todos conhecem. O toque do sino, megafone e, caso seja necessário, o oficial de segurança avisa porta-a-porta.

Já mais direcionado a um primeiro combate, há bocas de incêndio e mangueiras, devidamente inspecionadas e mantidas pela proteção civil.

E, vincou ainda Luís Marques, “para que tudo funcione e ninguém se esqueça, serão feitos exercícios de treino” à população.

No fundo, diz, é garantir que a população, com estas medidas “se auto proteja”, ficando as forças no terreno com muito mais tempo para se dedicar ao combate ao fogo.

“Se conseguirmos nos territórios criar condições para que as pessoas se salvaguardem a elas, sobra mais espaço, tempo e disponibilidade de meios para fazer o combate. Nas primeiras horas, o que acontece normalmente é tentar salvar habitações, animais, pessoas. Às vezes só passadas muitas horas é que começamos, verdadeiramente, a tentar acabar com o incêndio, primeiro é salvar Trigais, Casegas, Relvas Ourondo…”, descreveu o comandante.

João Almeida, presidente da Junta de Freguesia da Erada sublinha que Trigais era há muito tempo uma grande preocupação nesta matéria, mostrando-se, por isso, muito satisfeito com todos os esforços feitos, também pela própria população e pelos proprietários, que limparam os terrenos.

“Uma aldeia em que quisemos intervir em termos de segurança, porque tem uma população envelhecida e porque, está aqui «muito funda» na serra e desta forma a população está mais segura”, disse.

“Estamos entre serras, conseguimos seguir todos os trâmites na lei, criámos os perímetros de segurança nos caminhos, e na aldeia, também com a colaboração dos particulares e, apesar de o fogo ser imprevisível, a aldeia está agora mais segura”, sublinhou.

João Almeida frisa ainda que a Associação de Baldios da Erada também concordou com a ideia e com o empenho de todos a “população sente-se realmente mais segura”

Uma segurança que vem do facto de todos os itens necessários para ser “Aldeia Segura” estarem efetivamente no terreno, garantiram as autoridades.

Câmara Municipal da Covilhã, Proteção Civil Municipal, Junta de Freguesia, GNR, Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, cada um na sua área explicou aos cerca de 50 habitantes da aldeia o que fazer, como agir, e, porque no verão a população triplica, avisam que se deve passar palavra a quem chega.

José Armando Serra dos Reis, Vice-presidente da Câmara Municipal da Covilhã, sublinhou que com este programa se pretende “proteger as pessoas” e vincou que no implementar das medidas “Trigais é um exemplo para o resto do concelho”.

As ações de sensibilização e formação como a que decorreu neste sábado são, para o autarca, cruciais. Defende que a informação é uma arma contra o pânico que pode ser fatal, disse, relembrando o que aconteceu em 2017 em Pedrogão Grande.

“As pessoas, quando não estão devidamente informadas, preparadas, entram em pânico e isso é terrível. As pessoas que morreram em 2017, foi porque se sentiram cercadas, entraram em pânico e depois morreram na estrada”. Apelou ao empenho de todos no implementar destas medidas, em nome do bem comum.

O Autarca deixou ainda a garantia que em breve será dado o passo seguinte neste programa que é a criação do Condomínio da Aldeia, que consiste em ordenar todo o terreno envolvente com a criação de mais pontos de água, entre outros aspetos.

Dizer que, para além de Trigais, no concelho da Covilhã foram identificadas como aldeias em risco e serão também “Aldeias Seguras”, Casal de Sta. Teresinha, Pereiro, Vale Cerdeira, Cambões, Casal da Serra, Gibaltar, Terlamonte, Atalaia e Relvas.

Na sessão de esclarecimento que decorreu em Trigais a GNR explicou, para além das ações decorrentes da lei que obrigam à gestão de combustível, como realizar devidamente queimas, queimadas e o que pode e não ser feito em dias de risco muito elevado de incêndio.

A ANEPC também esteve presente centrando a sua intervenção na apresentação do programa e seus objetivos.